Tinham vindo almeias do Fayoum (província) que debaixo das tendas celebravam as suas misteriosas e estranhas danças. O imperador da Áustria e a imperatriz tinham passeado por Ismailia, montados em dromedários; depois disso as ruas estavam cheias de viajantes, equilibrados sobre as excêntricas selas dos camelos e dos dromedários. Havia por toda a parte tocadores, cantadores, mágicos, fascinadores de serpentes.
Os beduínos formavam danças e lutas, e carreiras de cavalos. Alguns, de pé sobre os dromedários lançados a galope, faziam toda a sorte de destrezas e de equilíbrios, jogando a lança. Tudo isto era acompanhado pelas salvas constantes dos navios, e pelos urras das marinhagens. À noite, a cidade transformou-se em luz. Por todos os largos estavam acesos grandes fogos. Via-se ao fundo do lago, através dos navios iluminados, brilhar fantasticamente a cidade, feita de pontos de luz. Os acampamentos estavam flamejantes. Em todas as tendas dos xeques havia cantos de mulheres árabes acompanhados de darabuca. Os fogos de artifício estalavam por todo o ar. No meio de grandes grupos, entre um círculo de fachos enormes, dançavam as almeias. Em outros círculos alumiados, a multidão abria os olhos diante dos improvisadores árabes. A luz escorria por entre toda aquela multidão, tomada de alegria. Havia sobre a cidade e o lago aquele forte rumor das festas, que é composto dos cantos, das músicas, das vozes, dos aplausos, tudo harmonicamente confundido, e que pela força da sua originalidade arranca o homem para fora da vida vulgar, com irritantes atracções.
Eça de Queiroz
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